Estudantes fazem ato pela liberdade após fechamento do campus


Uma ideia “jogada ao vento” durante bate-papo em um centro acadêmico acabou provocando o fechamento do campus Perdizes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) na sexta-feira (16), sem aviso prévio. De acordo com os estudantes que idealizaram o 1º Festival da Cultura Canábica, a ideia saiu do controle e se auto-organizou porque “as pessoas queriam falar ao ar livre”.
Dois estudantes conversaram com o G1 durante o ato pela liberdade do lado de fora da instituição. O protesto substituiu o festival após a suspensão das atividades no campus, decisão tomada pelo reitor Dirceu de Mello na tarde da quinta-feira (15). Um dos alunos afirmou que, há menos de um mês, estava em um centro acadêmico conversando com colegas quando um deles sugeriu a realização de um evento com debates e bandas que estimulasse a discussão sobre a descriminalização da maconha.
O projeto, segundo ele, nunca cogitou incentivar o consumo da droga no campus. “Ia ter banda, ia ter filme, um monte de atividades. Cultura canábica é o quê? Música, arte, filmes relacionados à maconha”, afirmou.
O objetivo era “falar de um aspecto da droga que não é ruim, como os efeitos medicinais e como ela é usada para estudar”.
A palavra “canábica” atraiu apoiadores principalmente por causa das redes sociais. Em menos de uma semana, o evento criado na rede social Facebook - de forma espontânea por um dos idealizadores - já havia recebido confirmação de mil pessoas. Quando foi proibido, já eram 6 mil os usuários dispostos a apoiar o festival.
As bandas ouviram falar do evento e se ofereceram “de várias formas e para várias pessoas” para tocar. Ainda de acordo com os estudantes, uma empresa que vende sementes de maconha – brasileira, mas com sede na Holanda, onde a venda não é crime – se aproveitou da exposição para produzir e distribuir folhetos divulgando o evento. Por causa da proporção, o grupo resolveu criar o site "Liberte sua mente" para divulgar seus pensamentos e informes sobre o evento.
Por outro lado, a reação contrária do reitor chegou de última hora, e de forma exagerada, segundo os alunos. Eles afirmaram que em nenhum momento foram procurados pela reitoria para explicar o evento.
“Se a gente tivesse chamado de ‘Festival da Cultura da Samambaia’, mas só falado sobre maconha, não ia acontecer nada”, afirmou.
Ato pela liberdadeO reitor da PUC alegou que as festas nas noites de sexta-feira na PUC ganharam “proporções inadmissíveis” por causa do barulho, e do “não dissimulado uso de bebidas alcoólicas e entorpecentes, afora outras condutas reprováveis”. Em entrevista ao SPTV, justificou a decisão ao afirmar que "a ousadia [dos estudantes] foi crescendo de uma forma que criou situação sumamente preocupante".
O grupo que idealizou o festival afirmou que as atividades haviam sido marcadas para a partir das 16h20 e que as pessoas que organizam festas – geralmente com início às 23h – não eram as mesmas desta vez.
O ato contra o fechamento do campus e a falta de democracia na universidade foi a resposta pacífica dos estudantes, aprovada em assembléia na noite da quinta-feira. Durante a discussão, os alunos chegaram a cogitar uma nova ocupação da reitoria como forma de protesto, ideia que foi logo descartada.
“Em pleno século 21 ter que lutar pela liberdade é o fim da picada”, reclamaram os universitários