Terrence Malick discute a existência e a fé em "A Árvore da Vida"


Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o novo trabalho de Terrence Malick (“Além da Linha Vermelha”), convida o público a uma profunda reflexão sobre questões que nos acompanham durante toda a vida. Em meio a arranha-céus de uma grande cidade, o personagem Jack se vê diante da perda da própria fé. Seus questionamentos remetem o espectador a década de 50, quando ele busca nas relações com a mãe, uma figura angelical, o pai autoritário e os dois irmãos mais jovens, os motivos que o levaram a se distanciar de valores antes considerados essenciais.
Redigido dessa forma, o texto parece tratar de um filme convencional, mas não se engane. Em narrativa não-linear, o longa-metragem vagueia entre as relações familiares e sequências de imagens deslumbrantes na tentativa de comprovar a existência de uma "força superior" por meio de belezas naturais, como o vento balançando os galhos de uma árvore, uma revoada de pássaros, o afago da mãe ao filho enciumado, e que culmina numa passagem que vai da reprodução da teoria do big bang ao nascimento da vida em sua forma humana.
Em quase duas horas e meia de filme, Malick criou uma obra audaciosa e esteticamente perfeita, mas que por vezes esbarra na pieguice diante do exagero da mensagem otimista imposta o tempo todo ao espectador. O uso excessivo de falas em off para os indagamentos dos personagens em frases como “Porque me distanciei de você?” e “Você estava lá todo o tempo?” e a ausência de diálogos, colaboram na construção do filme que foge aos padrões.
As cenas que remetem ao passado em família guardam as passagens mais emocionantes da trama. A revolta contra o pai, rígido na educação dos filhos, é compensada pela amizade dos irmãos. O amor incondicional da mãe acaba sendo o elo condutor para a redenção do personagem retratada nos belíssimos momentos finais do filme. Em sua apresentação, no início do longa, a visão da mãe sobre a vida, para quem existem dois caminhos a seguir: o da natureza e o da graça. Entre citações bíblicas do livro de Jó e trechos de óperas, esses dois temas permeiam todo o filme.
As excelentes atuações de Brad Pitt e Jessica Chastain como o Sr e a Sra O’Brien também somam incontáveis pontos à obra de Malick.
A "Árvore da Vida" não é uma obra facilmente digerível, mas sem dúvida sua mensagem permanecerá  vários dias na memória de quem se submeter a essa experiência inovadora proporcionada por Malick.