Aposentada alimenta 400 pombos e coloca em risco saúde da população


A aposentada Júlia Vieceli, de 76 anos, alimenta por duas vezes ao dia mais de 400 pombos na calçada de sua casa, na Vila Monteiro, em Piracicaba. Os pássaros consomem seis sacos de 25 quilos de milho por mês, gasto de pouco mais de R$ 130 de parte de sua aposentadoria. O gesto, que teve início com apenas um casal de aves, coloca em risco a saúde da população e recebe a reclamação de muitos vizinhos.
“É uma questão de saúde pública”, diz o vizinho da aposentada que não quis se identificar. Os pombos são transmissores de doenças como a criptococose, causada pelo fungo Cryptococus neoformans. Ela é transmitida pela inalação da poeira que pode conter fezes secas de pombos e canários.
A doença pode comprometer o pulmão e afetar o sistema nervoso central, causando alergias, micose profunda e até meningite aguda ou crônica. “Normalmente, essas infecções se manifestam em pessoas com problema de baixa imunidade, como soropositivos, pessoas com câncer ou que fazem uso de corticóide crônico”, explica o médico infectologista Carlos Augusto Gimael Ferraz Junior.
Mais animais
Julia mora com um irmão de 83 anos, que faz tratamento devido a um câncer de pele. Os dois dividem a casa com 10 cachorros e um gato. Para ajudar nas despesas, ela lava túmulos no Cemitério da Saudade, onde alimenta também 100 gatos. "Só para os pombos, são cinco quilos de milho por dia. Cada saco de 25 quilos custa R$ 22”, calcula Júlia, que os alimenta diariamente às 7h e às 16h.
A alimentação dos gatos (200 quilos por semana) é custeada por doação. "Uma mulher doa oito pacotes de 25 quilos de ração por mês”, relata a aposentada.

Questionada pelo EP Piracicaba, Júlia não entende as consequências do seu ato. “Eu sei que os vizinhos não gostam e reclamam, mas a pomba é um ser de Deus e tem que ser alimentada”, rebate.

Reclamações

Os moradores da rua reclamam da quantidade de pombos e dos perigos que eles oferecem. “Eu me mudei há alguns meses e pintei o apartamento. No dia seguinte, quando voltei, vi marcas de pombos pelo local inteiro”, relata uma vizinha que também não quis se identificar. Ela afirma ainda que achou estranho o fato de que os outros apartamentos tinham tela de proteção, mesmo não tendo crianças no prédio.
 
“Logo às 6h, as aves começam a chegar, vindo de todos os lados. A senhora sai, varre a rua e recolhe os cachorros que estão na calçada. Perto das 7h, ela joga o milho”, diz outro vizinho que também não quis ser identificado. “Além dos pombos da cidade, atrás da casa dela, têm um quintal enorme onde ela também joga milho para os pássaros do campo”, completa.
Outro vizinho, que também não quis se identificar, afimou que fica impressionado com a quantidade de pombos alimentados. "Enquanto ela não parar de alimentá-los, nós não teremos paz”, conclui. 

Ricardo Quagliato, síndico de um dos prédios comerciais do local, contou que a CPFL precisou trocar recentemente a fiação em frente à casa da aposentada. "As fezes das pombas estavam colando os fios e prejudicando o fornecimento de energia”, relembra.

Além do prédio que Quagliato trabalha, há outro em construção na mesma rua que é invadido pelas aves. "Antes de serem colocados os vidros, as pombas invadiam os apartamentos, sem contar as caixas de ar condicionado que ficavam todas sujas”, conta. 

Outro problema, ainda segundo o síndico, é de que os carros ficam sujos e cheios de manchas. "Um dos apartamentos está com problema de infestação por piolhos de pombas”, completa Quagliato.

Contaminação
Os pombos podem ainda intensificar o risco de doenças alérgicas e de transmissão de parasitas. “Se o animal frequentar um ambiente contaminado, ele pode levar essa sujeira para a casa da pessoa. Quanto mais pombos, maior a probabilidade de contaminação”, analisa o médico Ferraz Junior.
Prefeitura
A Prefeitura informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que está aguardando resposta da Vigilância Epidemiológica para se pronunciar. Entretanto, até a atualização desta matéria (às 17h15), não houve retorno.