Em depoimento, suspeitos negam existência de cartel de fretados


Os promotores do Ministério Público ouviram nesta terça-feira (4) as oito pessoas presas envolvidas em um esquema de formação de cartel por empresas de fretamento de ônibusem Campinas e região. Entre as declarações os empresários do setor, funcionários e representantes do sindicato negaram a existência de cartel e de fraude em licitações para prestação de serviços em empresas e órgãos públicos. A expectativa é que não deve ser feito o pedido de prisão preventiva dos investigados e que nesta noite eles sejam soltos. Isso porque a prisão temporária de sete dos presos vence esta noite e os promotores encaminharam um ofício à Justiça pedindo a revogação de todos os presos.
Depoimentos
Das oito pessoas presas e investigadas pelo MP, seis prestaram esclarecimentos no período da tarde, no 2° Distrito Policial de Campinas e na cadeia feminina de Paulínia. Um dos ouvidos foi o dono da empresa Exclusiva José Brijeiro Júnior. Ele afirmou que respondeu todas as perguntas, preferiu não dar declarações para imprensa e negou que teria feito ameaças ao denunciante. “Não fiz nenhuma ameaça”, disse.

O funcionário da mesma empresa Marcelo Pereira da Fonseca afirmou que as acusações do MP são sem fundamento. “Agora nós vamos ter oportunidade de provar que a gente não tem nada a ver com isso, que a gente é inocente e que tem mais peso quem realmente fez as denúncias”.
O depoimento do funcionário da Capellini Fernando Rossi durou cerca de uma hora. O advogado de defesa disse que foram feitos vários esclarecimentos aos promotores, inclusive em relação a uma denúncia mostrada pela reportagem da EPTV, em que a empresa de João Henrique Poppi operou uma linha na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) durante dois anos e não conseguiu fazer a renovação.
A Capellini teria assumido emergencialmente por quatro meses e teria desistido da concorrência, o que favoreceu outra empresa a Padovani,que ganhou por um valor maior do que o praticado inicialmente pela Poppi.
No entanto, segundo o advogado Ralf Tórtima Filho explicou que “houve o pregão eletrônico, mas no mesmo dia houve um apagão com relação à energia, então muitas empresas não puderam participar. Apenas três empresas participaram e por isso é que o valor ficou nesse valor.”  
O empresário Poppi que fez a denúncia também disse sobre ameaça em entrevista a EPTV.
Uma delas teria sido feita pelo dono da Capellini, Ariovaldo Marta. “Ele me puxou de canto no cantinho ali na parede e falou assim: a partir de hoje você não participa mais de licitações na Unicamp. Até que ele falou,então você pensa muito bem porque até ontem você tinha cinco ônibus, hoje você tem quatro, mas você ainda tem sua vida”, afirmou Poppi.
No entanto, nesta tarde, Ariovaldo negou que isso tenha ocorrido. “Não ocorreram as ameças”, disse.
No período da manhã, foram ouvidos os empresários Miguel Moreira Jr., dono da Transmimo e Belarmino Marta Jr., dono da Rápido Luxo, suspeito de chefiar um esquema de fraudes, em que ambos negaram o envolvimento no esquema.
Segundo o promotor Adriano Andrade Souza, não foi perguntado se os investigados fazem parte de uma organização ou de um cartel. “Foram perguntados uma série de fatos, uma serie de circunstancias e a partir desse quebra cabeça para nós foi proveitoso”, disse.
Contradição
Segundo o promotor José Cláudio Tadeu Baglio, durante o depoimento na cadeia feminina em Paulínia da funcionária da Transmimo Cássia Eliane Turini, ela disse sobre a existência de uma forma de uma empresa auxiliando outra nas licitações de concorrência. “Ela confirmou que existia um esquema de o que ela chamou de ‘cobertura’ entre empresas parceiras. Mas, isso tudo vai ser analisado, confrontado com a prova trazida nos autos”, disse.
No entanto, o advogado de defesa Ralph Tórtima Stettinger negou que a afirmação tenha dado a impressão de irregularidade. “Essa expressão (cobertura) ao meu ver não procede. O que ela disse é que na verdade havia entre alguns dos participantes uma amizade de muito tempo, então trocavam ideias, conversavam se havia possibilidade de ajuda dentro da licitude em algum aspecto, havia a ajuda", disse.
De acordo com o promotor as duas mulheres esclareceram pontos indagados pelo MP e Rosa Maria Júlio Landin assessora do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento de Campinas e Região (Sinfrecar) preferiu manter-se em silêncio em algumas perguntas e responder em juízo. "Trouxeram informações que corroboraram aquilo que o Gaeco já tinha amealhado durante as investigações”, explicou. 
Para o advogado Haroldo Cardella que defende Rosa, e outros dois suspeitos, José Brijeiro Jr. dono da Exclusiva e o funcionário da empresa Marcelo Pereira da Fonseca, "os depoimentos foram esclarecimentos, todos os pontos até mesmo as gravações telefônicas, os emails que foram interceptados foram colocados pra eles, foram esclarecidos o teor daquela conversa”, afirmou.
Entenda o caso
A investigação começou depois que o empresário José Henrique Poppi tentou entrar na concorrência na prestação de serviço fretado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), mas foi ameaçado por donos de outras empresas que faziam parte do esquema. Segundo a Promotoria, o grupo de empresários e os membros do sindicato combinavam quem assumiria serviços, tanto em contratos privados como em públicos, como é o caso da prestação de serviço na Unicamp. O caso chamou ainda mais a atenção por envolver empresários bem conhecidos, como os donos das empresas Rápido Luxo, Belarmino Marta Júnior, e Miguel Moreira Júnior, dono da Transmimo.
As empresas filiadas ao Sindicato das Empresas de Fretamento (Sinfrecar) combinariam os valores apresentados nas concorrências e com isso, os contratos ficavam com valores cada vez mais caros. Entre as empresas, a Capellini e a Exclusiva. Os donos da Exclusiva, José Brigeiro Júnior e Ariovaldo Marta, da Capellini, foram presos na operação da semana passada.
No depoimento aos promotores, João Henrique Poppi ainda conta ter sofrido ameaças desde que passou a disputar linhas da Unicamp. Em uma ocasião teria sido chamado a garagem da Rápido Luxo, por Belarmino Júnior, também preso sexta-feira. João Henrique teve medo e o padrinho dele se propôs a ir ao encontro. Belarmino teria exigido que o expresso Poppi desistisse dos serviços prestados à Unicamp.