Dez anos se passaram e Campinas ainda não sabe quem matou o prefeito Antonio da Costa Santos (PT), o Toninho, assassinado com um tiro na noite de 10 de setembro de 2001. Desde então, quatro investigações foram abertas, uma delas ainda em andamento, mas sem previsão de conclusão.
A morte é cercada por teorias, questionamentos, saudades e lembranças. A EPTV conversou com a família e os responsáveis pelas investigações da morte do prefeito.
Em entrevista exclusiva, que será publicada neste sábado (10), a filha de Toninho fala sobre a morte do pai, a saudade, política, a espera por uma resposta, a pipa símbolo da campanha, os planos para Campinas, o sonho de ser prefeito e o último recado deixado pelo pai no seu celular.
A morteAntonio da Costa Santos foi encontrado morto dentro do carro que dirigia, um Pálio Prata, na Avenida Mackenzie, em Campinas. O prefeito tinha saído do Shopping Iguatemi e seguia para a casa, no bairro Notre Dame.
A filha do ex-prefeito, Marina Garcia Costa Santos, conta que ela e a mãe souberam da morte de Toninho por intermédio de um policial militar, que atendeu o celular dele, "Quer falar com o prefeito?", disse o policial. Desconfiamos, ficamos preocupadas, eu e minha mãe. Por isso, ligamos para a Polícia Militar e perguntamos se tinha acontecido alguma coisa com o prefeito, uma vez que, com a ligação, pensávamos que ele tinha sido sequestrado, mas o policial da central de emergência disse que o prefeito tinha morrido", relembra Marina.
A filha do ex-prefeito, Marina Garcia Costa Santos, conta que ela e a mãe souberam da morte de Toninho por intermédio de um policial militar, que atendeu o celular dele, "Quer falar com o prefeito?", disse o policial. Desconfiamos, ficamos preocupadas, eu e minha mãe. Por isso, ligamos para a Polícia Militar e perguntamos se tinha acontecido alguma coisa com o prefeito, uma vez que, com a ligação, pensávamos que ele tinha sido sequestrado, mas o policial da central de emergência disse que o prefeito tinha morrido", relembra Marina.Em 2001, a Polícia Militar não explicou porque um policial atendeu o telefone do prefeito e apenas informou que eles foram os primeiros a chegar ao local, após receberem ligações de motoristas que passaram pela avenida e estranharam ver um carro batido, com os faróis apontando para uma placa de propaganda. A batida foi registrada pelo circuito de segurança de uma concessionária, que fica do outro lado da via.
MedoToninho não andava com seguranças, segundo a família, porque não acreditava que corria o risco de ser assassinado. "Ninguém nunca imaginou isso. Ele pensava que poderiam atacá-lo de outras formas, nunca matando", conta a filha. "Meu pai andava com o vidro aberto e dizia que, se fossem abordá-lo, tinham que ver que era o prefeito que estavam assaltando. Era assim que ele pensava: que combateria o crime de forma direta", conta Marina.
"Antônio não gostava de andar com o carro da prefeitura, pois achava que era um funcionário público qualquer... A única que andava com segurança era Marina [filha]. Ele temia que pudesse acontecer alguma coisa com ela, mas nunca pensou que ele seria o alvo", relembra a viúva de Toninho, Roseana Garcia.
InvestigaçõesAs investigações da morte do prefeito começaram imediatamente após o crime. A Polícia Civil de Campinas assumiu o caso que, após três meses, foi transferido para a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Capital, que veio buscar provas e testemunhas.
O resultado das investigações foi encaminhado à Justiça de Campinas. Os promotores da cidade buscaram novas provas e mais depoimentos. Os documentos apontavam que o grupo do sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, conhecido como Andinho, tinha matado o prefeito. Os motivos nunca foram esclarecidos, mas a conclusão é de que integrantes desse grupo estavam no Vectra prata de onde partiu o tiro que matou Toninho.
Em novembro de 2010, juiz José Henrique Torres determinou a reabertura das investigações, após rejeitar os documentos apresentados, sob argumento de que a Polícia Civil não encontrou provas concretas do crime.
A família de Toninho comemorou a decisão da Justiça. "A única vitória nesses 10 anos foi a reabertura do caso. Ficamos felizes porque concordamos que a Polícia Civil não juntou provas nem encontrou a arma do crime. A própria polícia de Campinas diz não ter estrutura para seguir com as investigações", defende Marina.
A família de Toninho comemorou a decisão da Justiça. "A única vitória nesses 10 anos foi a reabertura do caso. Ficamos felizes porque concordamos que a Polícia Civil não juntou provas nem encontrou a arma do crime. A própria polícia de Campinas diz não ter estrutura para seguir com as investigações", defende Marina.
As investigações mudaram de mãos por duas vezes e agora estão sob responsabilidade do delegado seccional de Campinas, José Carneiro Rolim Neto, e do delegado do Setor de Homicídios e de Proteção à Pessoa (SHPP) da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas, Ruy Pegolo.Segundo o delegado seccional, Pegolo é quem poderia responder sobre o andamento do caso, mas neste mês de setembro ele está em férias e, quem falou sobre as novas investigações foi o delegado substituto, Luís Augusto Mita. "O que posso dizer é que as investigações retornaram com base no inquérito anterior e os nomes e informações passadas pela viúva para a Polícia Civil", disse Mita, que informou que não se inteirou por completo do caso, mas pode dizer que algumas dessas pessoas já foram ouvidas.
Sem respostaUm levantamento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostra que pelo menos 52 mil crimes ficaram sem solução no País neste período de 10 anos em que a morte de Toninho é investigada.
"Não ter sequer uma resposta é muito doloroso, porque meu pai sempre lutou pela justiça. Tanto lutou que dedicou sua vida a isso. É duro ver que, mesmo assim, nada mudou, e que quem cometeu o crime está solto e ainda deve ter lucrado muito com isso", diz Marina.
A Polícia Civil informou que faz as investigações com tranquilidade, porque esse é um caso trabalhoso, e que não há previsão de conclusão dos trabalhos.
FederalizaçãoRoseana Garcia, viúva do prefeito de Campinas, foi a Brasília esta semana se encontrar com representantes do governo federal, em busca de apoio para agilizar as investigações da morte de Toninho. Roseana pediu ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a entrada da Polícia Federal no caso.A viúva do prefeito acredita que agora tem um trunfo. "Volto a Brasília com o inquérito reaberto, com a sentença do juiz, avalizada por mais três desembargadores, de que a investigação foi insuficiente e frágil", explica.
O advogado que defende a família do prefeito, Willian Ceschi Filho, acredita que a PF pode dar novo rumo às investigações. "A Polícia Civil teve a oportunidade de fazer essa investigação, mas nunca apurou a possibilidade de esse ser um crime de mando. A PF pode trazer inteligência ao trabalho e colaborar para o esclarecimento", diz.
"Esse é um crime contra um prefeito, tem dimensão federal, a Polícia Federal tem então argumentos para entrar no caso. Queremos que pessoas com um olhar de fora investiguem a morte do meu pai", explica Marina.
Prescrição
Prescrição
O Código Penal prevê que o crime de homicídio prescreve em 20 anos, ou seja, deixa de existir perante a Justiça e, portanto, não é mais investigado.
"Eu não quero que isso aconteça e que simplesmente meu pai pareça nunca ter existido para a cidade. Eu acho que se as pessoas levarem isso adiante, seria uma forma de também pensar em uma cidade diferente da forma que meu pai queria", diz Marina.
"Eu não quero que isso aconteça e que simplesmente meu pai pareça nunca ter existido para a cidade. Eu acho que se as pessoas levarem isso adiante, seria uma forma de também pensar em uma cidade diferente da forma que meu pai queria", diz Marina.
Roseana diz que prefere que o crime prescreva a ver uma resposta errada, sendo tratada como final. "Se for para concluírem que Antonio morreu porque estava atrapalhando o trânsito ou que foi morto em um crime banal, prefiro que não concluam até que o crime prescreva", defende Roseana.
A filha de Toninho diz que ainda tem esperança de que o crime seja solucionado. "É triste falar isso, mas do jeito que passaram 10 anos, não desacredito que outros 10 passem sem sabermos a resposta", lamenta Marina.
